sábado, 28 de abril de 2012
Sempre me vi através dos olhos de outros, de todos os que me rodeiam. Quer me fossem mais próximos ou afastados, a verdade é que cresci a ver-me como os outros me viam. Assim conhecia-me pequena, redonda e achatada. Pode parecer piada ou até jocoso, mas a verdade é que não tem graça nenhuma.
Se isto aconteceu por ter personalidade fraca e pouco carácter, na verdade não sei. Era criança, a viver num ambiente complicado, completamente só e sem quaisquer outras referências.
Olho para o espelho e a imagem que me apareceu com muita frequência foi a de tapete redondo.
Ao longo de toda a vida tentei encaixar-me no que seria considerado normal. Aparentemente fui conseguindo mas o que é certo é que nunca me identifiquei com grupos, tribos e outras coisas que tais.
O nome pomposo que se dá a pessoas assim é "outsiders", e na volta fui isso mesmo. Mas o facto de ser "outsider" também me permitiu ser observadora, e ser portadora de um tipo de liberdade que não é muito comum. Não sigo modas nem gurus. Bem ou mal sigo a minha consciência, os meus valores, e até a minha falta de juízo. Errei, claro que errei. E, olhando para trás, penso que aprendi alguma coisa com os erros que cometi, mas sempre encontrei em mim o impulso de seguir em frente.
Só nunca aprendi uma coisa: a ver-me como sou. Sou a minha maior incógnita, o meu enigma doméstico. Há quem chame isto de insegurança, pode até ser, mas para ser sincera é apenas uma total incapacidade de me olhar nos olhos e ver quem e o que sou.
No entanto acontece algo de muito estranho: de repente há quem me veja maior e melhor, pelo menos é o que me parece. Dou por mim a olhar por cima do ombro para ter a certeza de que é de mim e para mim que falam.
Será que não se enganaram no interlocutor?? Que estranho verem tudo aquilo em mim. Será que estamos falando da mesma pessoa?
Tenho medo que descubram que se enganaram, mas continuo a ser o que sempre fui. Eu própria, que não sei quem sou.
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